Reflect em entrevista à IVStreet

"É a minha perspectiva, são os meus olhos.
Para mim faz sentido que a música diga respeito à pessoa que a cria, que haja nela a personalidade do seu autor".
Reflect em entrevista à IVStreetReflect, MC de Armação de Pêra e membro do colectivo Evolusom, entrega ao movimento nacional o seu álbum de estreia, ÚLTIMO ACTO. Entre o passado e o futuro, a IV STREET quis saber o que está por trás deste trabalho. O single, "Último Acto", está disponível juntamente com a restante informação em www.reflect.com.pt.


IVStreet: Antes de mais, apresenta-te para quem ainda não te conhece.

Reflect: Chamo-me Pedro Pinto, tenho 21 anos e sou de Armação de Pêra (Algarve).
Divido o meu tempo entre aulas, programação, fotografia e música.
Sou responsável pela editora independente Kimahera e faço parte do projecto Evolusom.
Actualmente sou aluno na Restart, em Lisboa, onde estudo Som.
Mais que isto é ouvir o álbum.


IVS: Não posso deixar de fazer aquela pergunta clássica – Como foi o início?

R: Complicado, parecido a tantos outros. Mind da Gap e Dealema foram e ainda hoje são as minhas principais referências, foi o rap com que me identifiquei desde logo. (...) Dei por mim com um micro daqueles para falar no msn e um pc, a tentar fazer algo. A vontade é altamente, mas não chega. Não havia ninguém por perto que me pudesse dar umas dicas, mas também não fiquei de braços cruzados por isso. Acabei por conhecer o Dezze, o Nigga M. e o Raffs (Evolusom) e juntos conseguimos evoluir e começar a obter bons resultados. O Pedro (Snyperproductions!) e o meu primo Nuno foram os primeiros a passar-me algum conhecimento técnico e sem as luzes que me deram não teria conseguído começar a gravar em condições.


IVS: Provavelmente os nossos leitores já ouviram falar de ti no âmbito da Kimahera. Como surgiu a vontade de criar uma editora?

R: A Kimahera surge como resposta à constante luta pela independência. A música sempre foi o meu espaço de liberdade no meio de todas as "obrigações" e a única forma de a manter com esse estatuto é eu ter os meios para depender apenas de mim mesmo para a fazer. A partir dessa vontade as coisas aconteceram com tempo e trabalho. À medida que a transportadora me acordava para fazer mais uma entrega, nascia logo aquela vontade de ir experimentar e aprender mais sobre o equipamento de forma a aliar cada vez melhor técnica ao lado artístico. Acabei por me inscrever num curso específico para aprofundar o conhecimento na área e preservo o espírito de formando.
A mais recente componente de editora é a fase final daquilo que eram os objectivos inicialmente previstos. Neste momento temos estrutura para levar um projecto do zero até quase à prateleira das lojas.


IVS: A vontade de fazer um álbum surgiu antes ou depois de criares a Kimahera?

R: Uma coisa levou à outra. Se nunca tivesse ambicionado fazer um álbum, talvez a Kimahera não existisse. Ainda bem que as coisas aconteceram assim e só posso estar grato por poder trabalhar com tanta gente diferente e estar envolvido em tantos projectos.


IVS: Quanto tempo levaste a fazer o álbum, no total? E porquê?

R: É-me impossível contabilizar o tempo total investido no ÚLTIMO ACTO. Foi um disco que foi ganhando forma com o passar dos anos, paralelamente à minha evolução enquanto ser humano. Existem vestígios neste álbum de 2002, mas foi em 2003 que o conceito que apresento agora começou a ganhar forma. Tirando a produção dos instrumentais, quase todo o restante trabalho associado ao registo foi feito por mim. Enquanto artista as coisas saíram naturalmente, nas devidas alturas. Sendo eu o meu próprio técnico, é muito complicado considerar uma faixa pronta. Para mim este álbum não está acabado, ainda era capaz de demorar muito mais tempo de volta de cada uma das faixas para aperfeiçoá-las ao máximo. Desisti, vou deixar as pessoas ouvi-lo.


IVS: Sentes que o ÚLTIMO ACTO é um álbum pessoal? Porque optaste por essa maneira de fazer música?

R: Completamente. É a minha perspectiva, são os meus olhos.
Para mim faz sentido que a música diga respeito à pessoa que a cria, que haja nela a personalidade do seu autor.
Não deixando de ser uma questão de gosto pessoal, é com o factor humano que mais me identifico. Nem foi uma questão de opção, não foi algo que eu tenha decidido. Desde o início que escrevo simplesmente o que sinto e, apesar de por vezes fugir da linha, acabo por voltar a ficar com a sola branca.
Não deixando de ser sensível ao "mundo lá fora", qualquer ponto que possa focar, negativo ou positivo, é consequência de acções de pessoas. Eu penso que o caminho é a formação das pessoas. O que existe à nossa volta é um reflexo dessa educação.
Todos sabemos que há muito para mudar. Criticando, alertamos, agindo, mudamos.


IVS: Como surgiram as colaborações do álbum?

R: Naturalmente. Na primeira fase, produção, escolhi os instrumentais que me provocaram aquele click imediato. Dessa forma, não foi necessário forçar a escrita para nenhuma das músicas. Enquanto escrevia e era invadido por consecutivos loops de cada melodia, visualizei imediatamente a colaboração de alguns artistas. O single é um bom exemplo. Assim que ouvi aquele instrumental e surgiu a ideia para o refrão, pensei logo: "Dino!".
Evolusom, RealPunch, Spell e Gijoe são os culpados do costume, acompanho de muito perto o trabalho de todos eles. Essas participações, apesar de facilitadas pela proximidade, devem a culpa à admiração que tenho pelo trabalho deles.


IVS: O teu álbum soa a algo muito para além do rap. Isso deve-se às tuas influências na música?

R: Sim. Desde novo que ouço de tudo e cada vez mais procuro ouvir coisas variadas. Tenho uma grande percentagem de rock na bagagem e, quando era mais novo, cheguei a ter bandas enquanto baterista. O álbum é um somatório de todas essas influências que trago, principalmente da música portuguesa. O que meto a tocar tem tudo a ver com o estado de espírito, logo não faz sentido gostar de um só estilo. Antes de gostar de rap, rock ou fado, gosto de música. Quando visto o fato de artista preocupo-me em fazer algo que goste, só isso.


IVS: O que estás à espera deste trabalho, em termos de feedback do público?

R: Ninguém melhor do que eu sabe o trabalho que este álbum representa. Tenho de esperar feedback positivo. Claro que é impossível agradar a toda a gente, mas sei que quem tem acompanhado o meu trabalho até aqui vai gostar do resultado final. Espero que os menos familiarizados com este projecto sintam vontade de o conhecer para depois poderem gostar ou não.


IVS: Mensagem final?

R: Ouçam, pelo menos uma vez, o álbum do início ao fim.


Retirado de:

IVSTREET

Joana Nicolau @ 22 Março 2008 (Sáb) - 16:00

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