1. Kimahera... O que é? E como surgiu?
Oficialmente, Kimahera é uma editora independente com estúdio próprio, mas acaba por ser mais que isso. É um conjunto de artistas, principalmente do Algarve, que colabora entre si, na música, nas artes gráficas, entre outras áreas e que consegue levar projectos de vários tipos de início até praticamente ao final do processo, com a parte "ao vivo" incluída. Surgiu muito naturalmente, como resposta à necessidade de controlarmos, de forma independente mas organizada, o nosso processo criativo.
2. Estudaste música... Em que consistiu e como te ajudou como produtor?
São bases, não me condicionam nem me marca uma forma de trabalhar, até porque uso muito "sampling", mas servem para estar mais à vontade para trabalhar com misturas de samples/ sons tocados e ter uma maior sensibilidade musical. Para além de ter noções em alguns instrumentos musicais, principalmente no piano.
3. O que sentes em relação ao movimento Hip-Hop Algarvio comparado com o resto do país?
Actualmente, vejo que existe de tudo, como no resto do país, existe muita gente a trabalhar a sério, com respeito pelo que está feito, gente a inovar, gente preparada para saltar à vista de todo o país. Mas já existe o contrário, malta que, tal como no resto do país existe, não se está a preocupar minimamente com o que deve ser feito. Mas há uma questão que se põe e que é inevitável, os artistas do Algarve (ou fora dos grandes centros) têm de lutar o dobro pelo mesmo reconhecimento, principalmente a nível de outros artistas que vivem nos grandes centros, que se fecham muito. Há muita coisa a passar-se por cá, tal como vejo isso a acontecer com a nova escola do Porto. Mas é uma situação um pouco diferente porque é uma zona que já teve bastante força a nível de hip-hop nacional. Cá há um movimento formado, há pessoal com valor em todas as terras do Algarve, concertos diversificados, mas é tudo muito local, não é fácil ter uma projecção e reconhecimento mais geral, independentemente de maior ou menor valor que os artistas de cá tenham, que a meu ver não é nada inferior ao resto do país.
4. Tens alguma rotina diária entre o trabalho/produção/mistura?
Tenho um horário a cumprir na minha profissão e, por vezes, ainda trago trabalho para casa, mas praticamente todo o meu tempo livre é para a música, ou estou a samplar, ou estou a produzir, ou a gravar uns scratchs, ou estou a gravar alguém no estúdio, ou em concertos. Só por si dava para me ocupar as 24 horas do dia, mas não me paga contas, nem sei se quero que pague porque felizmente não dependo da música, trabalho em arquitectura e assim a música mantém-se "in a safe place" e faço-a como quero.
Mas sempre que estou a ouvir música estou a pensar nisso, e por vezes, até na hora de almoço aproveito para avançar um beat, ou samplar algo, ou seja, aproveito todo o tempo que tenho livre para música, não é pensado, mas acaba por ser uma rotina.
5. Em que consistiu o teu projecto original "Calendário"? Calendário 2009?
O calendário sickonce 2008 surgiu de uma ideia que tinha de fazer um álbum instrumental, que já andava na minha cabeça há uns anos, mas não tinha um conceito que me justificasse fazê-lo, com a cena? do calendário apareceu o conceito, e limitou-me a 12 + 1 meses, surgiu a ideia de trabalhar com o designer Samuel Simões e acompanhar os beats com imagens. Era o que me faltava para escolher o beats e trabalhá-los com uma justificação, um conceito forte.
O passo seguinte foi mesmo como editar, e optei por ceder os beats pelo site da editora, e torná-lo mais interactivo fazendo um mini concurso de participações nos beats aberto a Djs, Mcs, cantores. Foi muito positivo porque apareceram cenas boas, e malta nova teve oportunidade de mostrar trabalho. Calendário 2009, não fiz para não matar o conceito, fazer uma pausa, e porque 2009 é um ano que estou, já com 4 álbuns de produção nas mãos, aos quais me quero dedicar a 100%.
6. O que é que vem primeiro? Kick & Snare ou o sample?
Normalmente começo pelo sample, samplo várias cenas, levo semanas que não faço um beat, só corto samples, crio uma base de samples. Depois faço uns quantos beats daí. Ou seja, geralmente é sample, depois batida, depois baixo e instrumentos, scratch... Mas há certas situações em que tenho um ritmo na cabeça ou uma velocidade e aí parto da bateria.
Freestyle @ 01 Junho 2009 (Seg) - 01:00