Texto extraído do livro "De mim para mim" de Carolina Tendon, disponível em http://www.carolinatendon.pt.
Lido por Napoleão Mira (http://www.napoleaomira.com),
acompanhado ao piano por João Mestre.
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Foi Chuva.
A chuva secou ao enfrentar o deserto de ideias por onde se fez passar. E passou sem sentido... Sem sentido de amar cada átomo que tocava, e sem o contemplar. Talvez emoção de escorrer pela vida, talvez ambição de querer ser mais ainda. Mas nada mais que chuva da rua. Daquela que nem é minha nem tua. É da rua perdida. E por mais que toque em todo o lugar, acaba por nem sequer ficar... na memória daquela rua.
Embora seja chuva que faz chover no rosto de quem sabe em que lugar ela passou, não é chuva forte que seja importante ao ponto de ficar mais nessa memória do que na da própria rua.
E eu quero ser uma espécie de rua para na minha não ficar; para a ver secar no deserto das minhas ideias. Quero ser rua para apenas a olhar sem muito a ver. Nem entender, nem perceber. Porque perceber mais magoa, e é como se ela deixasse de ser chuva e passasse a ser granizo de Janeiro. E não há Verão que o derreta nem memória que o apague. Porque se calor houvesse para derreter esse granizo, eu facilmente o faria evaporar...
Mais tarde poderia até cair sob a forma de água, ou poderia até não voltar... Mas se caísse seria para não ficar, e se ficasse, pousaria longe da minha rua e perto do meu esquecimento...
Carolina Tendon
17-08-2010
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Carolina de Sousa Tendon nasceu no dia 21 de Junho de 1991 em Portimão. Desde o maravilhoso dia do seu nascimento, revelou ter uma forte personalidade e objectivos bem definidos. Foi uma criança alegre e muito responsável, uma aluna exemplar, um exemplo de vida, uma inspiração, um ser maravilhoso na sua integridade. Preservou essas características até ao momento da sua partida... aos 22 anos, no dia 10 de Fevereiro de 2014, em Évora, cidade onde era estudante universitária a concluir o último ano de Medicina Veterinária. Desde os três anos de idade que revelava uma grande paixão pelos animais e pela dança. Aos 10 anos escreveu o primeiro texto que deixou todos aqueles que o leram surpreendidos.
O livro "De mim para mim" apresenta os textos escritos pela Carolina por ordem cronológica, onde se pode apreciar a evolução da escrita e uma personalidade extraordinária.